top of page

“Já não se ouvia há mais de 50 anos”. O órgão do século XVIII, do Mosteiro de Lorvão, distrito de Coimbra, esteve inativo durante várias décadas e só em 2014 voltou a ser ouvido no seu ‘som original’. A obra construída por familiares do escultor Machado de Castro demorou dois anos a ser restaurada, mas com uma longa história por detrás.

Foram mais de 200 anos, com várias intervenções pelo meio, que o órgão do Mosteiro de Lorvão, em Penacova, esteve sem funcionar com as suas caraterísticas originais. “Trata-se do maior órgão histórico português alguma vez construído em Portugal e por um português. O único órgão composto por duas fachadas sonantes e de largos tubos de 16 pés (medida sonora) ”, salientou Dinarte Machado, Mestre organeiro responsável pela restauração do instrumento.

 

A obra foi inicialmente projetada por Manuel Teixeira de Miranda com a colaboração dos seus filhos Machado de Castro e António Xavier Machado e Cerveira, que após um interregno de 14 anos, a vem terminar, completar e ajustar á época. Ao encargo do escultor Machado de Castro ficaram apenas as esculturas que ornamentam a caixa do órgão sendo então a obra atribuída ao seu irmão que terminou a sua execução em 1795.

 

“O órgão é composto por dois teclados manuais e tanto o primeiro teclado, como o segundo, estão divididos em várias secções, no mesmo instrumento, característica aliás, típica da escola de organaria portuguesa do Século XVIII e XIX. A “paleta” de sons que este instrumento oferece, torna-o singular em relação aos seus congéneres”, explica o mestre organeiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As suas características e a importância do órgão tornaram a restauração mais difícil, mas este não foi, no entanto, o fator principal para o tempo que este órgão esteve sem funcionar. Em 1991, quando o Estado, na presidência de Mário Soares, decidiu recuperar o instrumento do Mosteiro de Lorvão, foi aberto um concurso para atribuição da obra.

 

“O I.P.A.R. adjudicou ao organeiro António Simões, o restauro de vários órgãos entre 1991 e 1992, nomeadamente o órgão do Mosteiro de Lorvão. Aceitou todos os trabalhos, quase em simultâneo, sabendo que não tinha capacidade para os levar a cabo e aceitou receber o valor na íntegra por cada um, sem sequer ter iniciado os respetivos trabalhos ”, começa por explicar Dinarte Machado.

 

A restauração do órgão foi prolongada durante vários anos e “pouco foi feito, para além das desmontagens do instrumento, cujos trabalhos justificavam o pagamento por parte do Estado em cerca de 50% do valor total”. A obra de arte continuou parada durante todo o processo de embargo a que o órgão esteve sujeito.

 

“Foi preciso, acerca de uma década para cá, uma grande vontade e luta contínua para ultrapassar obstáculos no que diz respeito a que o órgão fosse entregue a uma entidade competente. Foi um trabalho de muita gente”, explica Fernanda Veiga, Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Penacova. O processo foi demorado e “houve até uma petição pública do concelho de Penacova para que este órgão fosse restaurado”, continua.

 

bottom of page